Tenho 28 anos e recebi hoje o meu primeiro subsídio de férias
Um abanão à precariedade
Parece um desabafo e é, mas é também um retrato cru daquela que ainda é a realidade dos nossos dias.
Não comecei a trabalhar aos 28, não é esse o motivo por trás do título deste meu texto. Comecei antes de ter idade legal para o poder fazer, acabada de entrar no Secundário, a servir mesas numa marisqueira.
Daí em diante não voltei a não trabalhar, mas durante mais de uma década não tive um emprego – trabalhei. Fui precária durante todo esse tempo e vivi a precariedade sobre várias formas:
Trabalhei sem contrato e sem horário, com pagamentos diários;
Trabalhei sem contrato, 6 dias por semana, com pagamentos a dinheiro, sempre com atrasos e aos bocadinhos;
Trabalhei com sucessivos contratos a termo não renováveis, no pico da crise e do “há muito quem precise”, “tens de te sujeitar”;
Trabalhei a recibos verdes, com vencimento fixo, local de trabalho obrigatório, horário mínimo e hierarquia, sem qualquer direito laboral ou relagia, sujeita a qualquer horário, em qualquer dia, com ou sem motivo.
Conheci os diferentes rostos da precariedade laboral até ter um emprego. Não deixei de trabalhar, mas passei a somar às exigências, deveres e obrigações um conjunto essencial de direitos.
Isto só foi possível no cenário atual, com um governo de esquerda, com prioridades sociais e que começa (devagarinho) a olhar para o trabalho com olhos de ver.
O caminho é longo, é certo que há muito por fazer mas ao batermos ao austeridade conseguimos dar um abanão à precariedade.
Duas breves notas:
– Minutos depois de escrito este texto, circulam na imprensa nacional notícias como “Desemprego registado cai para nível mais baixo dos últimos 28 anos (…) É preciso recuar a Dezembro de 1991 para encontrar um número mais baixo.” [Público], o que é um dado interessante face ao que escrevi;
– Aos meus amigos, colegas e camaradas que continuam no caminho da precariedade, em qualquer das suas formas, deixo uma mensagem de resiliência e incentivo para que não se conformem e um apelo a que compreendam que é na solução de esquerda que se combatem as desigualdades e as injustiças laborais e sociais.
[Redigido a 19 de junho de 2019]
Pode ler (aqui) todos os artigos de Leila Alexandre
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